artigo Eli Antonelli
“Ano novo e ela mais uma vez
tirou a folhinha da parede. Os olhos ainda permaneciam sem cor, apesar do azul
profundo e intenso, nada de vida estava ali. Já passava de 30 anos e para
descrevê-la os conhecidos e amigos
citavam automaticamente Stevan. Sim, ela passara a ser a sombra de um grande
amor, sentimento que assim ela definia. Era o sexto calendário que ela tirava
da parede e contabilizava a ausência dele.
Sua profissão havia
estacionado e seus estudos não foram concluídos. Uma, duas, três faculdades, sem terminar. Não havia flores em
seu jardim. Silêncio e um mundo tão cinza que ela já não sabia mais o que era
um nascer do sol.
Seus pensamentos eram 24h
dedicados a Stevan. Seus interesses na internet, na conversa com os amigos, nos
títulos dos livros que escolhia para ler, nos filmes que assistia. Tudo era
relacionado com ele.
A vida era uma sucessão de
dias de depressão e ansiedade. Apesar dos seis longos anos, ela ainda
acreditava que ele voltaria. Mas, ele não ligava, ele não escrevia, ele seguia
sua vida, feliz e com tombos e desafios, mas ela não mais fazia parte do mundo
de Stevan.
Os amigos diziam para ela,
as inúmeras contas sem retorno também avisavam que era melhor pensar mais em
carreira, focar mais na sua vida. Mas, ela apenas vivia pelo sonho do retorno de
Stevan e fantasiava a linda história de
amor que os dois viveriam.
As folhinhas da parede eram
colocadas numa caixa de sapatos colorida. Ela guardava os anos da ausência. E
as caixinhas foram aumentando, os anos passando. E ela passou dos 30, dos 40, dos
50 anos até que um dia, ela enfim, olhou para as caixinhas”
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Esta pequena crônica nasceu a
partir de uma postagem no facebook de uma imagem com a seguinte frase “O que
fazer quando somente um abraço, de somente uma pessoa, pode curar todas as
dores e este abraço esta tão longe?”.
A resposta a esta pergunta é
simples e objetiva. Quando isso acontecer a primeira coisa que devemos fazer é
olhar no espelho e perceber a pessoa mais importante do mundo: você. Sim, esse
é bem o maior, o maior presente do mundo. E esse presente contempla apenas uma
vida, curtíssima. É preciso estar alinhado com sua missão de vida. Se você
acredita que sua missão seja ser feliz e espalhar esta alegria para quem
estiver próximo, convém ficar atento.
Muitas mulheres passam anos de
sua vida dedicando-se a lembranças de um relacionamento que já não existe mais
para a outra parte. Muitas destroem toda sua história se dedicando a um
sentimento que insistem em chamar de amor. Mas, amor nunca traz tristezas, amor
é doce e delicado. Faz bem. Se algo esta doendo, esta machucando é importante
perceber que muitas vezes é essencial olhar se estamos dando sentido a nossa
vida ou estamos apenas vivendo a vida do outro. Concentrando energias na
recuperação do então “grande amor”. Não que lutar por um relacionamento que
pode ser verdadeiro não seja uma ação possível e importante de ser feita. Mas,
a luta não deve contemplar perdas. Se lutar por um grande amor é fazer sacrifícios
e colecionar infelicidade, pode ter certeza que a vitória não ira ocorrer.
Afinal, o então “grande amor” não vai querer encontrar alguém fraca, debilitada
emocionalmente.
Não existem fórmulas mágicas para
se recuperar um relacionamento. Se existisse ela não será gratuita, certamente.
Mas, temos um compromisso com a vida que
não pode ser desperdiçado.
Outro foco importante quando a
dor estiver intensa, e parecer que o mundo não tem cor sem aquela pessoa é
preciso se concentrar numa estatística simples. “No mundo há 7 bilhões de pessoas”.
Sim, é muito gente. Certamente, Deus com sua infinita bondade não criou apenas
uma pessoa que possa nos fazer feliz, ele criou várias, que não vão ocupar só o
lugar de amor, mas de amigo, de parceiro, de confidente. Essas pessoas estão aí
esperando a chance de contribuir com nossa história.
A vida é muito curta e os anos
perdidos não voltam mais. Essa afirmação parece óbvia, mas para quem se dedica
a viver a vida do outro e se alimentar de lembranças, esta afirmativa é
complexa demais.
Uma obra que indicamos é o livro
de Marilia Gabriela “Eu que amo tanto”, relato de 14 mulheres sobre seus amores
e suas dores tão intensas.
Hoje é carnaval, em nosso país o
ano começa mesmo pós este período. Aproveite agora e faça algo por você. Não
deixe as caixinhas se acumularem.
1 Comentários
Lindo texto. Nos faz refletir exatamente no tempo gasto, com o que gastamos ou com quem gastamos. Tempo esse que não volta, a não ser, como lembrança. Se gastamos esse tempo na vã esperança de algo que não vai voltar, então, nem lembranças teremos. Parabéns. Muito bem escrito.
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